domingo, 16 de janeiro de 2011

Educação para o tempo livre

Aproveitando que os dois últimos posts foram sobre férias, deixo aqui mais uma contribuição para pensarmos melhor este assunto. 
Vamos começar pelo óbvio: as férias não são nosso único tempo livre. No entanto, para elas nos preparamos com antecedência, buscamos novas experiências (pelo menos deveríamos buscar...) e somos quase obrigados a deixar a rotina de lado. Acontece que todos os dias temos "tempos livres" preciosos que são desperdiçados por vários motivos. Eu normalmente cito nos meus cursos uma frase que ouço repetidamente: "eu não tenho tempo para nada, é uma correria, chego em casa super cansado(a), não consigo nem ir ao cinema direito". Aí eu pergunto: "No trajeto para ir e voltar para casa você tem tempo de pelo menos trocar o cd do carro ou a música do ipod? Quantos cantores, cantoras, bandas e estilos de música novos você descobriu nos últimos anos?". Existe um tempo de deslocamento que é perdido todos os dias que poderia ser desfrutado com mais propriedade. Este é apenas um dos exemplos.
A principal causa disso é que nunca fomos educados para aproveitar o tempo livre. Nossa formação é apenas voltada para o trabalho e para valorizar os resultados provenientes deste trabalho. Nossa personalidade profissional é moldada durante muitos anos. Enquanto estamos na universidade aprendemos técnicas, adquirimos novos vocabulários, passamos a aceitar diferentes teorias, enfim, passamos de matéria bruta a escultura lapidada pelo conhecimento. 
O mesmo não acontece com o tempo livre. Ao invés de professores e mestres, quem tem nos educado para o lazer é a televisão ou a matéria paga dos jornais. Boa parte do público desempenha o papel de vítima sorridente de uma indústria cultural, que promove novelas, seriados, músicos e celebridades feitos em série e de conteúdo banal. Infelizmente, esquecemos que nosso cotidiano é repleto de "férias instantâneas", de momentos que poderiam ser aproveitados com coisas novas e estimulantes. Esta postura é uma falha do nosso processo educacional que nos deixou perdidos culturalmente, que nos faz escolher "filmes para não pensar" e, como consequência, tem gerado estresse, descontentamento e a tão comentada depressão pós-férias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário