domingo, 22 de janeiro de 2012

Pagando o café do próximo cliente

É possível inovar até numa ação tão simples como tomar um cafezinho.
 
Com um espaço aconchegante e que transmite conceito de sustentabilidade, o Ekoa Café criou uma série de iniciativas para que seus clientes interajam mais, como os Livros Livres, na qual é possível ler os livros durante a permanência no Café ou levá-los para casa, desde que deixe um no lugar; o Cliente do Mês, em que o cliente que mais frequentou a casa no período é homenageado com uma história sua no mural; e o Café Compartilhado, quando alguém toma um café e deixa outro pago para a próxima pessoa com um bilhete de mensagens positivas, gerando um ciclo de boas vibrações e deliciosos cafés – feitos com grãos orgânicos.

O projeto Café Compartilhado, que surgiu com muita atenção ao lema “gentileza gera gentileza" traz a oportunidade para o cliente deixar um café pago para a próxima pessoa, com um bilhete com mensagens. Segundo Marisa Bussacos, proprietária da casa, “a inspiração do projeto foi baseada em um livro que se passa na República Tcheca. O cliente além de deixar o café pago para o próximo que vier – e que fica anotado na lousa - pode escrever uma mensagem positiva para compartilhar com a pessoa que ver o crédito anotado e quiser utilizá-lo”. “No fim, o que dá mais satisfação para as pessoas é receber bilhetinhos com poesias, letras de música ou palavras de incentivo, algo sempre positivo e muito simpático!”, complementa Marisa. A gentileza é sempre muito bem vinda em todas as ocasiões da vida e o Ekoa quer partilhar isso com cada cliente.

Freud e a terceira cultura, por Daniel Piza

Comento de vez em quando a proposta da “terceira cultura”, demonstrada em sites como Edge  www.edge.org), que é a de reaproximar a ciência e os conhecimentos propiciados pelas chamadas humanidades (filosofia, sociologia, psicologia, antropologia) e pelas artes e seus críticos. O termo vem do lendário debate entre C.P. Snow e F.R. Leavis nos anos 50, As Duas Culturas, em que foram traçadas as fronteiras entre as duas áreas: a ciência seria cumulativa e criaria melhoras concretas na realidade das pessoas (como a anestesia ou mesmo a maior expectativa de vida atual), as humanidades e as artes não teriam a mesma noção de “progresso” (não se pode dizer que Michelangelo foi inferior ou sabia menos sobre a natureza humana do que Brancusi, digamos) e seriam mais especulativas.

A “terceira cultura” vem gerando ou reforçando diversos produtos, sobretudo livros de neurologistas e biólogos que tentam analisar o comportamento humano do ponto de vista evolucionista (com as descobertas feitas desde Darwin até o Projeto Genoma), nomes como Oliver Sacks, Richard Dawkins, Steven Pinker e António Damásio (que dedicou, entre outros, um livro ao pensamento de Spinoza). Até expressões como “instinto de arte” (“art instinct”) foram criadas para tentar explicar fisiologicamente nossa percepção do que é belo e expressivo. Estudos da linguagem também passaram a ser reivindicados cada vez mais por quem tem familiaridade com escaneamentos cerebrais do que com teorias semióticas e congêneres. É como se o empirismo pudesse tudo.

Méritos e deméritos à parte, o fato é que essa “invasão” da ciência em todos os campos pode dar contribuições muito importantes, mas nem sempre tão importantes quanto eles pensam e, atenção, a tendência é bem menos recente do que eles imaginam. Pense em Freud! Ao contrário da grande maioria dos psicanalistas que o seguiram nos últimos cem anos, doutor Sigmund era médico, um homem da clínica e do laboratório, e sonhava com tempos em que a tecnologia pudesse nos dar mais informações consistentes sobre o funcionamento cerebral. No entanto, é visto como alguém que só tratou da “mente” e não do órgão cerebral, como se não imaginasse que os pensamentos deixassem registro fisiológico.

E onde Freud foi buscar as diretrizes para suas teorias, além do que observava experimentalmente nos pacientes com distúrbios psicológicos a que atendia? Em dramaturgos como Sófocles e Shakespeare e em pensadores como Schopenhauer e Nietzsche. Ou seja, nas artes e humanidades. Em tais criações ele via “insights” geniais sobre o comportamento humano, sobre as contradições da psique, sobre os impulsos sexuais e os estados melancólicos. Para Freud, que comparou o surgimento da psicanálise ao heliocentrismo de Copérnico e ao evolucionismo de Darwin como transformadores da noção do que é o homem e seu lugar na natureza, os gênios das artes e da filosofia eram indispensáveis para a nova ciência. Na atual onda da terceira cultura, nem todos pensam assim. Por isso não pensam melhor.
(fonte: http://blogs.estadao.com.br/daniel-piza/freud-e-a-terceira-cultura/)